
Essa semana foi especial para mim, lá no escritório. É que consegui terminar o processo mais complexo e longo que já trabalhei um dia.
Por questões óbvias de sigilo profissional, não posso revelar os nomes dos meus clientes, mas a história foi mais ou menos assim:
Em meados de 2015, fui procurado por dois irmãos que eram ainda bem jovens e moradores de outra cidade, e me relataram que tinham um imóvel aqui em Avaré, mas que o mesmo estava “enrolado” por falta de concluir alguns inventários.
Para quem não sabe, o inventário é o processo judicial ou extrajudicial que apura e formaliza os bens, dívidas e herdeiros de uma pessoa falecida, visando à partilha do patrimônio entre os seus sucessores.
Ele é essencial para a transferência legal dos bens, e deve ser iniciado em até 60 dias após o óbito, sob pena de multa.
Pois bem.
Fazendo uma análise profunda do caso, descobri que haviam quatro antepassados dos meus clientes, que já eram falecidos, mas que nenhum dos processos de inventário tinha sido concluído, apesar de todos terem sido iniciados por volta de 1998.
Isso aconteceu por diversos fatores, mas principalmente, porque as pessoas foram morrendo antes de o inventário anterior ter sido concluído, por falta de dinheiro para pagar os impostos devidos ao Governo de São Paulo e porque as duas excelentes advogadas que me antecederam na causa, também morreram.
Hoje, dez anos depois, já posso me considerar um bom Advogado de Inventários porque já fiz muitos, mas não era o caso na época.
E, mesmo assim, meus então clientes e agora amigos, confiaram em mim.
Todos temos a tendência de nos criticarmos severamente e de nos elogiarmos pouco. Acredito que essa ideia nos foi incutida ainda quando crianças, pois nossos pais não queriam que fôssemos arrogantes.
Mas a verdade é que precisamos conhecer os nossos pontos fortes e fracos se quisermos vencer na vida.
Um dos meus pontos fortes é gostar de desafios e saber o que eu não sei, para procurar quem sabe, e fazer o que o que precisa ser feito.
E, para desenrolar esses quatro Inventários, eu contei com a inestimável ajuda de muita gente, em especial do meu Mestre no Direito, o Dr. Cláudio Luiz Vasconcelos Paulucci e a minha Esposa, a Dra. Anelissa Bonifácio Mazetti. Sem eles, a vitória não teria acontecido.
Tem muita gente que acha que os advogados são insensíveis às causas dos clientes. Isso não é verdade. Pelo menos no meu caso e no dos meus colegas de profissão mais próximos. Perdi muitas noites de sono por causa desse processo.
Aproximadamente dez anos depois de ter pegado a causa, que já vinha tramitando há cerca de quinze anos, consegui entregar a Escritura devidamente regularizada do imóvel aos meus clientes. Foi um momento de forte emoção.
E de reflexão: Como pode, vivermos em um país onde um processo tramita por quase 27 anos, para resolver uma questão que é meramente burocrática e que só existe nesse nível de complexidade, para gerar arrecadação de impostos? Enfim, é assim que as coisas são, por enquanto.
Desde uns três ou quatro anos, a realização de Inventário no Cartório se tornou comum e acessível para quase todos os casos. Muita coisa melhorou e se agilizou, mas ainda há bastante a ser feito.
E, é claro que não tenho como terminar essa coluna, sem agradecer aos meus clientes, que confiaram em mim, entenderam a complexidade da causa e acreditaram no processo!
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