
Não é de hoje que a União Europeia está em guerra com as gigantes da tecnologia. Com leis cada vez mais rigorosas, o bloco europeu vem se posicionando contra a concentração de poder nas mãos de empresas como Google, Meta, Apple e Amazon.
Entretanto, mais do que regulamentar e multar pesadamente as chamadas Big Techs, a Europa agora promove ativamente alternativas digitais que priorizam o que seria uma espécie de “soberania tecnológica” na visão deles, pois o objetivo de empresas e governos europeus seria evitar o uso de tecnologias oriundas de outras nações, em especial dos Estados Unidos e China, o que supostamente ajudaria na questão da transparência e dos valores democráticos. Você acreditou? Nem eu.
Muito recentemente, assisti a um vídeo no canal Diolinux, que tratava justamente disso. Todos os links citados nesta coluna estarão disponíveis no final do texto, para não atrapalhar a compreensão do assunto.
De toda forma, iniciativas como a “European Alternatives” e a “Go European” buscam estimular o uso de plataformas digitais e infraestruturas criadas ou sediadas na Europa, propondo soluções que fogem da lógica predatória dos monopólios, enquanto projetos como o “Open Web Search” e o “EU Operating System” apostam na criação de ecossistemas tecnológicos independentes, que supostamente respeitem a privacidade e favoreçam a inovação.
A narrativa é clara: A Europa está travando uma guerra — política, econômica e ideológica — contra o domínio das Big Techs. E embora essa movimentação seja vista com entusiasmo por especialistas e defensores da descentralização digital, é preciso cautela, pois nem toda empresa europeia é automaticamente sinônimo de ética, segurança ou qualidade. O simples fato de uma ferramenta ser "alternativa" ou "local" não garante que ela seja melhor ou mais confiável que uma criada pelas Big Techs.
Muitas vezes, soluções vendidas como descentralizadas ou abertas também possuem problemas de usabilidade, transparência no financiamento ou viabilidade a longo prazo. Além disso, algumas dessas plataformas ainda dependem — ironicamente — de tecnologias das mesmas Big Techs que pretendem enfrentar.
A guerra europeia contra as gigantes do Vale do Silício nos Estados Unidos e da China certamente marca um novo capítulo na geopolítica digital. Mas, para o usuário comum, a mensagem principal deve ser equilibrada: É essencial buscar alternativas, mas sem ingenuidade. A verdadeira soberania digital exige não só regulação e boas intenções, mas também análise crítica e responsabilidade na escolha das ferramentas que usamos no dia a dia.
Analisando os sites e projetos citados, gostei de algumas coisas que encontrei, principalmente os aplicativos e serviços da Proton, empresa lançada em 2014, após a realização de uma vaquinha virtual, na qual mais de 10.000 pessoas doaram cerca de meio milhão de dólares para viabilizá-la.
Aproximadamente 11 anos depois, a Proton tornou-se a principal empresa de privacidade do mundo, com milhões de usuários pagantes ao redor do globo, inclusive esse colunista.
Escolhi a Proton, por ser uma empresa que se destaca na sua missão de fornecer serviços como VPN, e-mail, nuvem, gerenciador de senhas e calendário, sem se apossar de meus dados pessoais e o de meus clientes, por ser sediada na Suíça, nação que mais respeita a privacidade no mundo. Na prática, isso quer dizer que o Governo não irá determinar que eles “forneçam em 24 horas” os meus dados, como acontece num certo País, com bastante frequência.
Outro aplicativo que gostei bastante é o da Mailfence, empresa fundada em 1999 e que oferece um serviço totalmente dedicado à privacidade do e-mail, pois todas as mensagens são criptografadas e com assinaturas digitais.
Interessante falar também, dos serviços (pagos, exceto um plano básico de armazenamento em nuvem) da Swisscows (Vacas Suíças, em inglês). Eles possuem um mecanismo de pesquisa focado na privacidade. Ele não rastreia ou armazena nenhuma informação pessoal, garantindo que as consultas de pesquisa dos usuários permaneçam anônimas e seguras.
A empresa, que é sediada na Suíça, também oferece um serviço e-mail, VPN e um aplicativo de mensagens focado em privacidade e proteção de dados.
Por fim, tenho que falar sobre a Mullvad, que é sediada na Suécia e oferece um navegador (gratuito), e um serviço de VPN (pago, mas de valor irrisório). Eles defendem que os serviços "gratuitos" têm quase sempre algum custo, sejam anúncios, coleta de dados ou a limitação das funcionalidades do serviço, para cobrar o valor necessário para subsistirem.
Finalizando a coluna de hoje, vale destacar que todas as empresas citadas oferecem serviços pagos e gratuitos, então navegar de forma segura não depende exatamente da sua condição financeira. É claro que os pacotes pagos são mais interessantes e oferecem mais benefícios, porém, os planos gratuitos já são muito eficazes e com certeza te deixarão mais protegido enquanto usa a internet.
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Links, por ordem de citação no texto:
https://www.youtube.com/watch?v=GXay1jfDhGY&t=1s&ab_channel=Diolinux
https://european-alternatives.eu/
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