
O dia havia sido quente. Sem um ar-condicionado as coisas no escritório fizeram até que o “Lulu” meu no ratinho saísse pra uma sombra mais fresca. Mas de tudo não foi perdido. Logo pela manhã recebera uma senhora elegante, alta e charmosa. Ela estava desesperada. Seu filho a estava roubando todo o dinheiro da empresa.
Ouvi-a por mais de duas horas. Ela era uma coroa, mas era sensível. Ela chorou, eu chorei. Sou sensível também. Depois de tudo passado a limpo, garanti a ela que seu filho teria o que merece. Roubar uma mãe, não se faz nem com uma mão. Ela me deixou um cheque polpudo. Dez pilas. Fui ao banco na hora do almoço e troquei o cheque com um caixa que estava mal-humorado que parecia ter comido sobra do almoço de ontem.
Depois saí, passei nos botecos para relaxar e pagar umas pros amigos. Sou um cara amigável.
À noite estava num resort-bar. Dinheiro não traz mulher bonita, manda buscar. Rodeado de quatro lindas donzelas e pagando suas ‘amarulas da vida’, por um tempo achei que eu fosse um sultão. Ave-mãe. Era mão e beijo pra todo lado.
Por volta de umas 4 da manhã, o proprietário, que por sinal, não me conhecia, me convidou para assistir uma luta de anões, que, em geral, acontece nos fundos do bar. Havia apostas e o dinheiro era alto.
Fui com minhas fêmeas até o local. A luta prometia. Era decisão do cinturão dos anões. De um lado Meia-Foda. Um anão corpulento e forte. Era o campeão. Do outro lado o Espirro de Pica. Um anãozeco pequeno. Bem menor que o campeão e mais fraco.
Saquei os últimos cinco mil reais que tinha e apostei no Meia Foda. Se ganhasse sairia dali com pelo menos uns vinte paus. As apostas eram de 9 para 1 a favor do Meia Foda. Ele era foda. Há dois anos invicto.
Quando começou a luta, me sentei e pedi um charuto cubano. Ascendi e sentado com as ‘meninas’ nos divertíamos ao ver o Meia-Foda dar um ‘pau’ no pobre adversário. Pelo que estava vendo, não passaria do primeiro round. Mas acabou indo pro segundo e depois ainda o terceiro round. Espirro de Pica apanhava como uma batata ensacada. Era tanto sopapo que não acreditava que ele ainda estivesse vivo. Mais um charuto, um bom uísque e as meninas rindo do pobre coitado.
Quase no final, Espirro caiu. O juiz começou a contar e eu comecei a contar meu dinheiro. Mas o desgraçado se levantou. Que merda, pensei. Mas tinha certeza que o Meia-Foda acabaria com ele, pois faltavam apenas mais 30 segundos.
Foram os 30 segundos mais longos da minha vida, ao ver, de repente, que, o pequenino Espirro num golpe descomunal derrubara o Meia-Foda.
Levantei e gritei:
“Porra, levanta, Foda”.
Entretanto o grito ficou no ar. Meia-Foda ficou estendido desacordado e eu querendo desmaiar. Cinco mil e o Meia-Foda me fode. Espirro de Pica era o novo campeão.
Quando a carteira ficou vazia, as ‘meninas’ já estavam no colo de outros. Só um cara ganhou a aposta e levou cem mil pro bolso.
Sorrateiramente saí de fininho. Não tinha mais dinheiro pra pagar o que restava da conta. O dono ao notar que eu estava saindo apertou um botão e meia dúzia de seguranças me levaram para fora.
Jogaram meu lindo e pobre corpinho no chão e me chutaram tanto que acordei na Cadeia. A luta era esquema de uns magnatas e ligados a polícia. Fiquei um dia num lugar sem água e sem privada, ao lado de um traveco. Gente boa. Fiz um amizadão com ele. Somente quando mamãe foi à delegacia e pagou 12 mil reais que eu havia gastado na gandaia foi que me liberaram. Isso é tortura falei pro delegado, apontando o dedo e dizendo que iria denunciá-lo na Corte Internacional. Levei uns tapas de mamãe. Entrei no carro e fiquei de castigo no meu quarto por dois dias. Mamãe é boa, mas ela me deixa de castigo.
Tango, Afrânio tango, detetive particular.