O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está liderando negociações para viabilizar um empréstimo de R$ 20 bilhões para impedir a bancarrota dos Correios. Sem esses recursos, a empresa não terá condições de arcar com seus gastos neste ano e no ano que vem. A operação terá garantia da União, condição necessária para que os bancos privados aceitassem dividir com o Banco do Brasil e a Caixa o risco de financiar uma empresa que está praticamente quebrada.
Não se trata de exagero retórico. Os Correios tiveram um prejuízo de R$ 2,64 bilhões no segundo trimestre deste ano, quase cinco vezes maior que no mesmo período de 2024. A empresa acumula rombos desde 2022, mas a derrocada se agravou no ano passado, quando o prejuízo atingiu R$ 2,59 bilhões, e no primeiro semestre deste ano, quando alcançou R$ 4,37 bilhões.
Funcionário de carreira do Banco do Brasil, o novo presidente dos Correios, Emmanoel Schmidt Rondon, disse que o empréstimo dará condições para a empresa se reequilibrar e iniciar o ano de 2027 no azul. Tanto otimismo talvez se explique pelo fato de o executivo estar há pouco mais de 20 dias no cargo. Que o diga seu antecessor, o advogado Fabiano Silva dos Santos.
Em janeiro, ao lado da ministra da Gestão e da Inovação, Esther Dweck, Fabiano minimizou os problemas e assegurou que a empresa estava “em processo de franca recuperação”. A empresa, segundo ambos, foi sucateada pelo governo Jair Bolsonaro, mas havia retomado os investimentos para ampliar sua atuação e finalmente se tornar lucrativa. O caixa foi torrado, o plano não funcionou e o executivo caiu em julho, após admitir que os Correios precisariam de um socorro para se manter.
É conveniente atribuir os resultados ruins dos Correios à perda da exclusividade sobre a importação de remessas do exterior e à “taxação das blusinhas”, mas o problema é bem maior do que o governo está disposto a admitir. Tanto o avanço da concorrência quanto a queda nas importações de produtos chineses de pequeno valor eram previsíveis, e o correto teria sido ajustar as despesas para enfrentar esse cenário de redução de receitas.
Enquanto as receitas minguavam, seus gastos avançavam. Em 2024, os Correios se comprometeram a transferir R$ 7,6 bilhões para cobrir metade do rombo do fundo de pensão de seus funcionários, o Postalis. Boa parte disso se deve aos péssimos investimentos realizados pelo fundo entre 2011 e 2016, durante o governo de Dilma Rousseff.
Os Correios têm um custo fixo elevado, estimado entre R$ 20 bilhões e R$ 25 bilhões anuais. Com uma estrutura de mais de 80 mil empregados, dezenas de imóveis ociosos e com alto custo de manutenção e a obrigação constitucional de atender a todo o território nacional, a despeito do desinteresse crescente pelos serviços postais, a estatal tem perdido espaço para empresas privadas que atuam no ramo de encomendas. Ainda assim, no fim do ano passado, os Correios acharam que era um bom momento para realizar um concurso público para contratar mais funcionários.
O empréstimo de R$ 20 bilhões será usado para honrar dívidas com fornecedores, quitar um financiamento de R$ 1,8 bilhão contratado no primeiro semestre deste ano e que vence no ano que vem e financiar medidas de ajuste, entre elas um Programa de Demissões Voluntárias (PDV) e mudanças no plano de saúde. Até agora, não foram divulgadas metas de redução de despesas nem uma estimativa de obtenção de novas receitas.
São muitos os problemas dos Correios, e eles não serão enfrentados se o governo Lula não reconhecer que o desequilíbrio da empresa é grave. É até irônico, portanto, que Rondon tenha descartado a privatização nos planos do governo para a estatal – como se houvesse alguma companhia com interesse em comprá-la na situação em que ela está.
A paciência dos bancos tem limite. Um calote, se houver, recairá sobre o Tesouro Nacional e, em última instância, sobre os contribuintes. Resultados tão ruins só serão revertidos se houver um radical corte de despesas, o tipo de política de que administrações petistas não podem nem ouvir falar.