Estou escrevendo um novo livro. Seu lançamento, se tudo der certo, deverá ocorrer a tempo do Natal.
A estória se passa em um mundo distópico onde o vírus da COVID-19 foi absolutamente muito mais letal do que na realidade, e mais de 90% da população mundial morreu. O enredo se apoia na ideia de que um pai de família precisa empreender uma grande viagem, para conseguir um simples antibiótico para seu filho.
A coisa toda se situa mais ou menos entre o nosso mundo, a série The Walking Dead (só que sem os zumbis) e o livro Celular, de Stephen King (mas sem os celulares).
Esse será o meu 12º livro, sendo o primeiro escrito no que venho chamando de “A Era da Inteligência Artificial”. Mas acalme seu coração. Juro que escrevi cada linha dele sem recorrer aos robôs!
Confesso ser um adepto convicto no uso das IA’s para quase tudo.
Elas me ajudam a buscar normas, leis e jurisprudência no Escritório. Me auxiliam no tratamento de processos e documentos cada vez mais volumosos e até mesmo na organização da minha rotina diária, que conta com aproximadamente 18 horas.
Conheço advogados que se recusam a usar Inteligência Artificial alegando serem “raízes”, e que ficam indignados com os colegas “Nutella”.
Penso (e sei que não estou sozinho), que esses são profissionais desatualizados e que logo sucumbirão na cruel guerra pelo mercado.
Usar determinadas ferramentas não te faz melhor ou pior do que ninguém. Te faz mais eficiente, o que é fundamental em nossos dias!
Como vou lutar pelos direitos de meus clientes escrevendo à pena como o inigualável Dr. Rui Barbosa fazia, se juízes, promotores e os colegas que atuam na parte adversa, usam Inteligência Artificial em larga escala? Simplesmente impossível!
Antes que você possa pensar, erroneamente, que a IA escreve meus processos, informo que “quem manda sou eu”.
Entenda que armas não matam, martelos não pregam e canetas não escrevem. Os responsáveis são sempre pessoas, para o bem e para o mal.
Os grandes jornais do mundo e do Brasil, como The New York Times, The Times, O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo usam Inteligência Artificial para produzir conteúdo de qualidade e em tempo real. Não seria um erro grave, se nós do Jornal A Bigorna não fizéssemos o mesmo? Penso que sim.
Entretanto, no mundo dos artigos de opinião e da escrita ficcional, a coisa muda completamente de figura.
Li essa semana no jornal Estado de Minas, uma entrevista, cujo link deixo ao final dessa coluna, uma entrevista com o escritor Sérgio Rodrigues, que acaba de lançar “Escrever é humano”, obra que trata justamente do tema ora abordado.
Para o Autor, enquanto a IA é uma “prodigiosa máquina de clichês”, a literatura verdadeira é o território do anticlichê, do inesperado, daquilo que descobrimos enquanto escrevemos. É uma distinção que vai além da técnica e toca o cerne da criação artística.
Tanto é verdade que, faltando dois capítulos para o fim do meu livro, ainda não sei o que acontecerá no final! A estória está se conduzindo sozinha, como deve ser!
Mas, voltando ao assunto, Sérgio Rodrigues não se deixa seduzir pelo pessimismo apocalíptico nem pelo otimismo ingênuo, e reconhece que o “nicho” da literatura pode se tornar ainda mais estreito, mas encontra nessa perspectiva uma oportunidade: “Uma comunidade excêntrica que teima em fazer com as próprias mãos um trabalho terceirizado às máquinas por quase todos.”
O Escritor resumiu com perfeição o que penso sobre o assunto: “Para lidar com o processamento de informação, o robô é um espanto. Mas literatura é o contrário de informação.”
E é exatamente aí que reside a chave para compreender por que a IA jamais substituirá a criação literária genuína. Enquanto a inteligência artificial é magnífica “no processamento horizontal de dados, a literatura exige um mergulho vertical no mundo das palavras, onde a linguagem é simultaneamente meio e fim”.
Rodrigues, assim como eu, acredita que a escrita literária não é terceirizável porque é fundamentalmente um ato humano. “Cada palavra escolhida carrega o peso de uma decisão humana, cada pausa revela uma hesitação genuína, cada “erro” pode abrir caminhos inesperados para a descoberta artística”, diz.
É preciso compreendermos que a ameaça não está na capacidade das máquinas de escrever, mas na nossa possível capitulação diante dessa facilidade, pois a Inteligência Artificial não é a nossa substituta.
A confiança nas capacidades humanas não deve ser abalada pela eficiência das máquinas, pelo contrário: As máquinas devem nos ajudar a fazer mais e melhor, como sempre fizeram, desde a idade da pedra.
A Inteligência Artificial me ajuda a escrever, mas não escreve por mim, porque quem manda sou eu!
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Link da entrevista:
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