
A VIDA COMO ELA É
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Santos Peres
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Veio como quem não quer nada
na base do sem eira nem beira;
tempinho para um Nescafé,
cerveja e uma “pizza ligeira”;
lavou pratos, panos e pia
com a TV no Malafaia;
escovou tapete, limpou vidraça
e borrifou água na samambaia.
Bolo de cenoura no capricho,
adubo no “comigo-nem-pode”;
bordou cestinha para o lixo
fez dengo para não ir embora.
Fez uso de minha toalha
com o símbolo do Verdão:
fosse um pano qualquer
o fez de tapete para o chão...
Instalou mala e cuia
no melhor do meu armário,
empurrando para um canto
Neruda, cuecas e Saramago.
Colocou Bruno e Marrone
no toque do meu telefone;
mudou minha senha
e meu perfil no Facebook:
“ – chega de assédio:
Zé num relacionamento sério”.
Trocou para Inverno
a opção do chuveiro,
e ao preferir penas de ganso
me deixou sem travesseiro.
Fez pouco do meu queijo ligth,
do desnatado do meu leite;
de minha dieta com aveia,
linhaça, soja, granola e azeite;
Comprou TV de plasma, lustres e cortina;
incensos “para um lar em Paz e Harmonia”.
E de presente me deu 20 prestações iguais,
com entrada, num carnê das Casas Bahia.
Agora quer casa de veraneio,
HBO na Sky, silicone na bunda e nos seios;
Honda Fit, empregada, Galaxy
e Notebook Vaio vermelho.
Pior, deu para Discutir a Relação:
exigindo orgasmo (não para; para não)
todos os dias, “em multiplicidade”
“para manter aceso o fogo da paixão”.
... E saber que um dia ela veio
“tô de boa” de bobeira
só para um Nescafé
e uma pizza ligeira.
Mas o que mais me apavora
nem é o múltiplo orgasmo;
(embora o Viagra
esteja custando o olho da cara)
muito menos aquele cruzado
que ela aprendeu vendo o Minotauro,
o que me apavora é ela me obrigar
a trocar o 13 pelo Bolsonaro.