• Brasil produz adultos pobres de pais pobres

    124 Jornal A Bigorna 08/06/2025 16:30:00

    Que o Brasil tem mobilidade social muito baixa é algo evidente até pela paisagem urbana que afronta o dia a dia de seus cidadãos.

    Fosse diferente, o país não teria dobrado em 12 anos o número de favelas em seu território, de 6,3 mil para 12,3 mil, segundo o Censo de 2022 —e o de cidades com essas aglomerações, de 323 para 656. No período, os favelados passaram de 11,4 milhões a 16,4 milhões, ou 8,1% da população.

    Um novo levantamento do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS), com dados oficiais de renda de IBGE, Receita Federal e CadÚnico, entre outros, traz números mais precisos e inquietantes sobre as barreiras à ascensão social dos mais pobres.

    Considerando um período de 36 anos, suficiente para averiguar o que se passou entre uma geração e outra, o Atlas da Mobilidade Social aponta que a probabilidade de uma criança que faz parte da metade mais pobre dos brasileiros chegar ao estrato dos 10% mais ricos quando adulta é menor do que 2%.

    Dois terços delas muito provavelmente permanecerão entre os 50% mais pobres no futuro, e apenas 10,8% subirão ao patamar dos 25% mais ricos. O trabalho revela ainda que menos de 2% terminarão uma faculdade.

    Esse quadro lúgubre explica o fato de o Brasil ter uma profusão de programas assistenciais para os mais pobres, com o Bolsa Família à frente —este detém orçamento de R$ 158 bilhões e, lamentavelmente, não possui programa acoplado de inclusão produtiva.

    A pergunta que se impõe, no entanto, é: como se chegou a essa situação? Há duas respostas principais: educação e ambiente macroeconômico.

    É praticamente consensual entre especialistas que a educação é a mola para a ascensão social e aumento da renda futura. No Brasil, no entanto, as deficiências no ensino condenam a maioria dos alunos a entrar despreparados no mercado de trabalho. Há professores mal formados, sem cursos de gestão, e prefeituras que mudam a seu bel-prazer currículos até a quinta série fundamental.

    A oferta de empregos para os que saem da escola, por sua vez, depende da economia. Esta é marcada por altos e baixos devido a uma crônica crise fiscal. Sem estabilidade, até a educação perde seu potencial de levar estudantes a uma vida melhor.

    Entre 2012 e 2021, apesar do aumento de 27% nos anos de estudo dos jovens da metade mais pobre, a renda do trabalho deles caiu 26,2%, segundo a FGV Social. No período, um colapso orçamentário, na gestão de Dilma Rousseff (PT), derrubou o PIB em mais de 7% no biênio 2015-2016.

    É lastimável que o atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que se pretende comprometido com os mais pobres, não persiga solução duradoura para o equilíbrio das contas públicas.

    Afinal, por causa de gastos excessivos, que empurram juros para cima, os rentistas tão criticados pelo PT receberão neste ano R$ 1 trilhão do Estado.(Da Folha de SP)

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