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    Entenda o que são as novas variantes do coronavírus e por que devemos nos preocupar com elas

    1814 Jornal A Bigorna 04/06/2021 22:30:00

    Se em 2020 o mundo descobriu o novo coronavírus, seus efeitos (de curto e longo prazo), como preveni-lo e como desenvolver vacinas contra a Covid-19, o assunto em 2021 são as variantes do vírus, ou seja, novas formas dele que continuam a surgir e causam preocupação devido ao seu alto potencial de transmissão e pelo temor do que podem fazer aos imunizantes já desenvolvidos.

     

    Veja as principais dúvidas sobre as variantes e o que sabemos sobre elas até agora.

    O que são variantes do vírus?

    O coronavírus infecta as células e as sequestra para produzir novas cópias dele. Nesse processo de aumentar seu exército, ele acaba cometendo alguns erros de cópia, chamados de mutações.

    Qualquer forma isolada em laboratório com uma ou mais mutações que distingam o vírus da forma ancestral é identificada como uma nova variante do vírus, segundo o virologista e professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP Paulo Eduardo Brandão.

    Na prática, cepa e variante são a mesma coisa. Cepa é o termo que se refere a uma única amostra isolada em laboratório, enquanto variante é o termo que se refere ao vírus isolado em uma região (por exemplo o surto de Londres foi por uma variante identificada em várias amostras de lá).

    Durante a pandemia, diversas variantes do coronavírus Sars-CoV-2 já foram identificadas.

    E por que as variantes surgem?

    Apontadas muitas vezes como a causa da piora da pandemia no Brasil, na verdade elas são resultado do descontrole e da alta circulação de pessoas.

    Quanto mais o vírus circula, maiores as chances de mutações surgirem —algumas delas facilitam a entrada do vírus nas células ou então impedem a ação de anticorpos neutralizantes.

    Como as variantes são batizadas?

    Brandão afirma que, para evitar estigmas, não são mais atribuídos nomes da região geográfica em que foi descoberta a linhagem. A nomenclatura oficial usa uma letra (indicando a linhagem ancestral, como “B” ou "P") e números (por exemplo B.1.1). Para que este texto não vire uma sopa de letrinhas e confunda o leitor, vamos usar as cidades de origem em alguns casos.

    As variantes conhecidas até agora que causam preocupação são a B.1.1.7, identificada no Reino Unido, a B.1.351, que surgiu na África do Sul e a P.1, originária de Manaus e já dominante em pelo menos seis estados brasileiros fora do Amazonas. Recentemente, a OMS (Organização Mundial da Saúde) classificou também a B.1.617, variante identificada primeiro na Índia, como uma variante de "preocupação global".

    A primeira variante a ser descrita foi a do Reino Unido, a partir de sequenciamento em massa de amostras do vírus, principalmente vindas da região de Kent, no sul de Londres. Até o momento, ela já foi detectada em 143 países e é predominante em toda a Europa.

    As variantes são mais perigosas do que o coronavírus original?

    A B.1.1.7 já era conhecida por ser de 43% a 90% mais transmissível. Recentemente, pesquisadores das universidades de Exeter e Bristol verificaram também que ela é 64% mais letal e pode causar formas mais graves da doença.

    Um estudo publicado na revista Nature em março também aponta que essa variante pode estar associada a um maior risco de morte. A análise foi feita com mais de 2 milhões de testes e 17 mil mortes na Inglaterra entre setembro de 2020 (quando a variante foi identificada) e fevereiro de 2021.

    Os autores estimam um risco de morte 61% maior com a variante britânica. No entanto, pesquisa publicada no último dia 12 na revista The Lancet não encontrou associação dessa variante com maior taxa de hospitalização ou morte por Covid-19. Segundo a pesquisa, que avaliou 341 pacientes —198 (58%) com a variante britânica B.1.1.7 e 143 (42%) com a forma ancestral, não houve aumento da hospitalização e morte dos pacientes infectados com a variante britânica.

    Em relação ao potencial risco à saúde pública, a variante B.1.351, da África do Sul, tem se mostrado preocupante. Apesar de não haver ainda dados que associem esta variante à maior severidade ou letalidade da doença, a linhagem que surgiu no país africano tem potencial de transmissão até 1,5 maior e não é freada pelos anticorpos que ajudam no controle da forma original do vírus, demonstrando que uma infecção prévia não impede a reinfecção.

    A P.1, ou variante de Manaus, também apresenta maior transmissibilidade, embora ainda não haja um consenso de quão mais transmissível ela é —cientistas falam de 2,2 a até 6 vezes mais.

    Em comum à variante sul-africana, a P.1 apresenta também a mutação E484K, ligada ao bloqueio da ação de anticorpos neutralizantes que ajudam a impedir a entrada do vírus original nas células. Casos de reinfecção também já foram reportados e não podem ser descartados.

    Faltam ainda dados sobre maior letalidade ou severidade da doença em indivíduos infectados com essa variante, mas a impressão dos profissionais de saúde e pesquisadores que estudam o vírus é que essa linhagem teria relação com o maior número de óbitos observado naqueles lugares com alta incidência da P.1 em 2021, como Manaus e Araraquara.

    Uma outra variante também surgiu no Brasil, chamada de P.2, descrita primeiro a partir de um caso de reinfecção com essa nova variante. Por ser ainda pouco estudada, não há dados sobre sua maior letalidade ou severidade, mas ela possui a mesma mutação presente nas variantes B.1.351 e P.1, capaz de bloquear a ação de anticorpos que neutralizam a forma ancestral do vírus.

    No caso da variante indiana, embora ainda não haja informações suficientes sobre maior letalidade ou transmissão para as três sublinhagens (B.1.617.1, B.1.617.2 e B.1.617.3), já se comprovou que a B.1.617.2 é mais contagiosa, segundo a OMS.

    Nesta quinta-feira (20) a linhagem B.1.617.2 foi detectada pela primeira vez no Brasil, no estado do Maranhão, a partir de tripulantes de um navio que ancorou em São Luís. Por essa razão, a presença dela é investigada pela Anvisa e pela Secretaria de Vigilância do Ministério da Saúde como um possível risco para as comunidades locais.

    As variantes podem atrapalhar as vacinas?

    A variante britânica não parece causar impacto potencial nas vacinas disponíveis contra a Covid-19.

    A variante da África do Sul, quando testada contra o soro de indivíduos vacinados com as vacinas da Pfizer, Moderna e Oxford/AstraZeneca, diminuiu significativamente o nível de anticorpos presentes no sangue. Como a ação de anticorpos é um dos mecanismos de resposta imune, essa variante pode potencialmente reduzir a eficácia das vacinas, segundo estudos feitos na África do Sul com as vacinas da Novavax e da Janssen, que tiveram uma redução na eficácia de seus imunizantes (de 89,1% para 49,4%, no caso da Novavax, e de 72% para 64%, para a Janssen) quando testados naquele país.

    Recentemente, pesquisadores da Universidade de Oxford e da AstraZeneca divulgaram que sua vacina não é eficaz contra a variante sul-africana.(Da Folha de SP)

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