Um estudo inédito do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) revela uma mudança radical no perfil do crime organizado no Brasil: as facções criminosas agora movimentam mais recursos com atividades econômicas formais do que com o tráfico de cocaína. Os números são alarmantes - R$ 146,8 bilhões em 2022 com combustíveis, ouro, cigarros e bebidas, contra R$ 15 bilhões do narcotráfico.
Combustível Lidera Negócios Ilegais
O setor de combustíveis aparece como a principal fonte de renda ilegal, com movimentação estimada em R$ 61,5 bilhões. De acordo com o estudo, o crime organizado atua em praticamente todos os elos da cadeia - da produção aos postos de gasolina, passando por refino, transporte e logística. O Primeiro Comando da Capital (PCC) e outras facções têm participação ativa na adulteração de combustíveis com metanol, que registrou aumento de 73,5% nas autuações em 2023.
Perdas Bilionárias aos Cofres Públicos
A expansão criminosa para setores formais causa prejuízos monumentais ao erário:
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R$ 23 bilhões em receitas perdidas com combustível irregular
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R$ 72 bilhões em sonegação fiscal com bebidas contrabandeadas
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R$ 94 bilhões em prejuízos com cigarros ilegais na última década
Mudança de Estratégia das Facções
Segundo Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do FBSP, "inicialmente essas mercadorias começaram a ser exploradas para lavar o dinheiro da droga, mas acabam gerando uma receita tão grande que a droga deixa de ser o negócio mais rentável". A diversificação permite às organizações criminosas consolidar domínio político e econômico, especialmente em regiões com pouca presença do Estado, como a Amazônia.
Novo Perfil do Crime Organizado
O estudo mostra que as facções atuam em pelo menos 22 setores da economia formal, incluindo transporte, mercado imobiliário e pesca. Atualmente, os crimes cibernéticos e roubo de celulares representam a maior fatia do crime organizado (R$ 186 bilhões), mas a atuação em setores regulados preocupa pelas implicações na segurança pública e na economia legal.
A Polícia Federal já anunciou a abertura de inquérito para investigar a atuação do crime organizado no setor de combustíveis, enquanto especialistas alertam para a necessidade de maior coordenação entre agências reguladoras e forças de segurança.