A mãe e o padrasto de uma menina de cinco anos foram presos em Itapetininga, no interior de São Paulo, na noite desta terça-feira (14), após, segundo a Polícia Civil, confessarem que mataram a criança e enterraram o corpo no quintal da casa onde moravam havia pouco tempo.
O caso veio à tona depois que a família paterna acionou as autoridades, relatando o desaparecimento de Maria Clara Aguirre Lisboa há cerca de três meses.
Luiza Aguirre Barbosa da Silva e Rodrigo Ribeiro Machado estavam acompanhados de um defensor público na audiência de custódia. Segundo a polícia, até o início da noite desta quarta, o casal detido não havia apresentado advogado.
De acordo com a polícia, por questão de segurança, os dois detidos ficarão separados dos demais —a prisão é provisória.
A Polícia Civil foi informada pelo Conselho Tutelar, que recebeu a denúncia da família do pai da criança sobre a perda de contato tanto com a menina quanto com a mãe dela.
Há cinco dias, a tia paterna publicou nas redes sociais um apelo, relatando o desaparecimento e pedindo ajuda para localizar a sobrinha.
Nesta terça, os policiais localizaram o casal em uma residência no Jardim São Camilo, em Itapetininga.
Eles foram levados à Delegacia de Investigações Gerais (DIG) da cidade, onde prestaram depoimento e confessaram o crime. Em seguida, indicaram o local onde enterraram e concretaram o corpo.
Durante as buscas, os agentes encontraram uma cova rasa. Segundo as primeiras informações da perícia, o corpo estava enterrado havia cerca de 20 dias.
Em depoimento, segundo a polícia, o casal afirmou que não tinha a intenção de matar a menina, mas de aplicar um castigo.
De acordo com a Polícia Civil, o padrasto havia deixado a prisão há cerca de um mês. Ele cumpriu pena por violência doméstica contra a companheira, mãe da menina, com quem reatou dias após ser solto.
Segundo o delegado Franco Augusto Costa Ferreira, responsável pelo caso, ainda não é possível determinar com certeza a causa da morte, por causa do estado avançado de decomposição do corpo.
Um alicate foi encontrado próximo de onde a menina estava enterrada. A ferramenta é mencionada como possível arma do crime no boletim de ocorrência.
"Nós acreditamos que tinha sido por conta de um traumatismo. Apreendemos uma ferramenta com manchas de sangue no local, possivelmente usado para agredir a vítima, mas nós só vamos saber depois que sair o laudo do exame necroscópico", disse Ferreira.
Ainda segundo o delegado, no depoimento, eles deram a entender que a menina "já não era mais bem-vinda para o casal".
"Eles negam a intenção de matar, dizem ter se excedido nas agressões e que a morte foi uma consequência, mas nós não acreditamos nisso. Acreditamos que eles deliberadamente, em conjunto, cada um da sua maneira, agrediram a criança. A partir do momento que essa criança veio a falecer, eles ocultaram o corpo."
Em meio a um clima de consternação, o corpo da criança foi enterrado nesta quarta, no cemitério Colina da Paz.
A tia de Maria Clara, Rafaela Lisboa, cunhada do pai da menina, contou que ela era muito apegada à família paterna.
"Ela saía muito com a Jéssica [outra tia], acho que até por isso ela não quer falar, para não ficar relembrando. Ela adorava dançar as dancinhas do TikTok. A Jéssica comprou um microfone de karaokê e foi a alegria dela. Ela era uma criança muito alegre, mesmo, com tudo. Foi depois do relacionamento da mãe dela com esse rapaz que as coisas mudaram."
Claudio Junior, tio paterno da vítima, disse que a relação da mãe de Maria Clara com a família do pai biológico era boa até o início do relacionamento dela com Rodrigo. Segundo ele, o casal, então, começou a brigar, e Luiza pediu ajuda para a família do ex.
"Teve uma época que ela postou um vídeo do cara com ela [Maria Clara] no colo, cantando funk ‘pesadão’, aí a gente foi atrás para saber o que estava acontecendo", afirmou.
Eles buscaram a menina na casa dela e denunciaram o padrasto, que foi preso. "Ficou uns meses preso e não sei por que soltaram. Daí não tivemos mais contato nenhum. Ela ficou sumida. A gente tentava contato e não conseguia."
O enterro ocorreu na presença de poucas pessoas. A maioria era da família paterna, mas um pequeno grupo que se identificou como "a família da mãe" também acompanhou o enterro.