Uma mulher sem passagem na polícia pega 14 anos de prisão por pichar com um batom a estátua da Justiça em Brasília. Um assassino de uma mulher sai da cadeia depois de 6 anos e já matou de novo. Aquela mulher do batom demonstrava o sentimento de muitos brasileiros de que a Justiça, no Brasil, nos últimos tempos, não merece mais respeito. O assassino livre é o símbolo do amor aos bandidos que grande parte do Poder Judiciário, por razões ideológicas ou outras quaisquer, tem demonstrado a população brasileira há algum tempo.
Todo mundo sabia que o Estado brasileiro, e, especificamente, o governo Lula, que ama bandidos vítimas sociais, perdeu a soberania para o crime organizado. Enquanto o bravateiro Lula fala de soberania em relação ao Trump, enquanto o STF canta em prosa e verso o Estado de Direito brasileiro, na vida real, fora da "Matrix" em que vive a liderança delinquente do país, o pau come.
O crime organizado tem torcida no Brasil: agentes da Justiça, políticos, artistas, produtores culturais, jornalistas, intelectuais, professores. E o crime sabe bem disso. Aliás, conta com isso como estratégia política e social para construir sua soberania prática sobre o território nacional. Em 20 anos, o Brasil será como esses países do chifre da África em que gangues mandam no território e a população aprende a viver entre balas, roubos, assassinatos cotidianos, e impostos ilegítimos para não serem roubados, estupradas e mortos.
Se a megaoperação carioca teve algum mérito —não vou entrar na discussão técnica porque não sou especialista— foi pôr na ordem do dia o assunto, obrigando a delinquência de Brasília se manifestar. Mas não se iludam: a atenção que o assunto ganhou passará logo porque a mídia tem memória curta, assim como a população em geral.
Outro fator que devemos ter em mente é que o interesse continua sendo eleitoreiro, seja para a direita que, antes da esquerda, tem levado a sério o tema, seja para a esquerda que quer angariar votos entre a enorme população envolvida com aqueles que são do crime ou os seus familiares.
O interesse do governo permanece meramente eleitoreiro. Lula, hoje, venderia o país para qualquer um que garantisse sua eleição em 2026. Não há governo federal e, se houve, acabou. O que há é o quarto mandato. A direita, burra como sempre, não consegue nem se desvencilhar do fator Bolsonaro, presa a uma obsessão que parece ver no ex-presidente uma encarnação do rei português Sebastião causador da nostalgia do sebastianismo que paralisou Portugal. O bolsonarismo hoje é uma forma de sebastianismo.
Chegamos ao ponto de que, para a torcida organizada do crime organizado —repetição proposital— o poder legítimo da violência está migrando para os direitos dos bandidos serem bandidos. Claro, contanto que não invada o Leblon ou a zona oeste paulistana. Soberania é o monopólio legítimo da violência.
É evidente que, para grande parte dessa torcida, o Estado —a polícia, mais especificamente no caso— não merece esse monopólio. Quanto mais policial morrer, e mais bandido escapar, melhor.
Devemos reconhecer que grande parte da perda da fé pública no Estado se dá pelo fato de que um setor significativo da população pobre é vítima de truculência policial, mesmo. Mas mais importante ainda é o fato de que o crime organizado, que está em guerra para tomar o país pra si, já se infiltrou num enorme território das atividades de mercado e do Estado brasileiro.
Agentes públicos de vários setores, assim como agentes econômicos de vários setores, já operam, muito provavelmente, para a rede criminosa. O crime, hoje, mantém todo um serviço de "formação de profissionais" de mercado e de carreira pública para garantir sua tomada de soberania no país. O crime está tão organizado que já tem pauta social.
Mas evidente que porrada só não resolve nada, apesar de que bandido só respeita poder de coerção. A verdade é que ninguém, nem nos setores da administração pública nem no campo acadêmico de especialistas, tem a mínima noção do que fazer.
Entre aqueles que compram um "baseadinho" para recreação e aqueles agentes públicos que há anos —independentes da filiação ideológica ou meramente fisiológicos— ignoram a tomada de soberania no país pelo crime organizado, ninguém está nem aí. Os governos ligaram o "foda-se" há muito tempo para o país, e um dos alvos desse "foda-se" é o fato da população estar cada vez mais aprisionada entre a violência do crime e a do Estado.
Miséria nacional: mesmo a segurança pública está polarizada. A direita mata bandido, a esquerda beija bandido.
*Por Luiz Felipe Pondé













