Há coisas que só o Natal consegue despertar dentro da gente. Uma mistura de saudade, esperança e aquela vontade profunda de acreditar que tudo pode, sim, dar certo. Para muitas famílias atípicas, essa data chega carregada de sentimentos que nem sempre cabem em palavras. Mas, ainda assim, tentamos escrever, porque acreditar também é uma forma de respirar.
Neste Natal, quero falar dos sonhos. Não aqueles sonhos grandiosos que dependem do mundo inteiro, mas aqueles silenciosos que nascem dentro da casa da gente. O primeiro olhar. A primeira palavra. A primeira resposta ao ouvir o próprio nome. O abraço esperado. O riso espontâneo. No autismo, cada avanço é uma vitória, cada detalhe é uma celebração, cada pequeno passo é uma dádiva que o coração guarda como ouro.
Muitas mães e pais passam dezembro com uma oração escondida na alma. Enquanto as luzes piscam nas ruas, eles pedem a Deus forças para continuar, paciência para insistir, sabedoria para entender, amor para recomeçar mil vezes. E sabem que, mesmo quando o mundo parece não compreender o que vivem, Jesus compreende. Ele conhece as noites insones, as lágrimas que ninguém viu, os medos que ninguém ouviu. E conhece, principalmente, o amor imenso que essa caminhada desperta.
O Natal nasceu de um milagre silencioso. De uma promessa feita no escuro, em um estábulo simples, onde ninguém esperava. E talvez seja por isso que tantas famílias atípicas se identificam tanto com essa história. Porque a nossa vida também é feita de milagres que o mundo não nota, mas que transformam tudo por dentro. Milagres que acontecem no tempo de Deus, não no nosso.
Se neste ano você se sentiu cansado, sobrecarregado ou sozinho, que esta coluna seja um abraço. Que você se lembre de que Jesus não veio para os perfeitos; Ele veio para os que precisavam de luz. E muitas vezes, é no desafio, na vulnerabilidade e na luta diária que encontramos a fé mais verdadeira. Não a fé que pede provas, mas a que continua caminhando mesmo quando os olhos ainda não veem.
Neste Natal, desejo que seu sonho — aquele que mora no fundo da alma — seja cuidado por Deus. Que Ele fortaleça seu coração, renove sua esperança e encha sua casa de paz. Que cada criança seja envolvida pelo amor, pelo respeito e pela compreensão que merecem. E que as famílias encontrem, no olhar de Jesus, a certeza de que não estão sozinhas.
Porque o Natal não é apenas uma data. É uma promessa: a de que a luz sempre vence a escuridão. E de que o amor — especialmente o amor que nasce da fé — sempre encontra um caminho.
Sobre a colunista
Marcela Fernanda de Andrade é pós-graduada em Neurociência, Transtorno do Espectro Autista (TEA), Educação Especial e Inclusiva, com capacitação em TEA pela Universidade de Harvard. Mãe atípica, é estudante de Fonoaudiologia e mestranda em Distúrbios da Fala e Comunicação Humana.
Instagram: @neurofono_marcelaandrade
Atenção: Esta é uma coluna informativa e reflexiva. Em caso de dúvidas sobre desenvolvimento infantil, procure sempre um profissional qualificado.













