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    CONTO:Tango o papai e os pirralhos

    Conto

    2396 Jornal A Bigorna 19/07/2018 11:58:00

    A tarde estava infeliz. Foi um dia sorrateiro. Mamãe me apresentou meu pai. Sim. Eu nunca conhecera papai.

    Foi um susto.

    Acabaram com meu dia.

    Papai era um cara de bom sorriso, verdade seja dita, mas feio que dói. Ainda bem que eu puxei mamãe. Bela e esbelta. Nasci de um numa noite de firulas e ressacas. Triste para mim. Um homem respeitável na sociedade ter sido concebido na esteira da gandaia. Por isso, acredito, que gosto da gandaia.

    Para piorar, o nome de papai era Gerinelson.

    Quase gritei de susto quando ele me deu um abraço e falou seu nome. Assim que pude deixei o apartamento e saí para trabalhar. Sou um homem trabalhador e profissional ao estremo.

    O dia transcorrera normal até às cinco da tarde, quando um senhor de meia-idade me contratou para acabar com uma gangue de pirralhos que estavam furtando um condomínio.

    Cobrei caro.

    Meus honorários não são baratos e meu serviço é de primeira qualidade.

    As sete liguei pro “Brucutu”. Meu ajudantenestas horas, quando temos que fazer a justiça pelas próprias mãos. Brucutu tinha ‘sangue nos olhos’. Mais de dois metros de altura e um físico invejável; era faixa preta de Kung-Fu também.

    Passei no Zé Sossego tomei uma cajibrinas e esperei o relógio apontar dez da noite. Horário em que os pirralhos se aglomeravam.

    Fomos no fiat 147 do Brucutu. Ele mal cabia no carro. No meio do caminho me lembrei do meu companheiro, meu revólver 32, a Catarina. Mas não tinha problemas, Brucu e eu daríamos conta nos tapas.

    Mais de meia hora e chegamos à entrada de uma favela que fazia divisão com o condomínio dos riquinhos.

    Descemos rapidamente. Já havia avistado um deles correndo. Seria ‘mamão com açúcar’. Bando de moleques. Corremos atrás deles e caímos num viela sem saída.

    Nada mal.

    Sem testemunhas.

    Quando, de repente, os holofotes acenderam vimos os piralhos. Gritei e dei um esporro. Sou foda. Sou detetive particular.

    De repente, uns trinta camaradas apareceram do nada.

    Foi tapa, soco e murro pra todo lado.

    Acordei num Pronto-Socorro com um dos braços fraturados. Meus olhos que mal se abriam de tanto inchaço. Olhei do lado e vi Brucutu lendo jornal ao lado de minha cama.

    Perguntei  o que havia acontecido. Ele deu de ombros e sorriu. Depois me contou que os pirralhos avançaram pra cima de nós.

    “Você foi um herói Tango.” – me disse.

    Eu sorri. Feliz.

    “Mas por que só eu fui herói?”

    “Ora. Você acha que eu ia enfrentar mais de quarenta pirralhos sozinhos?”

    Gaguejei.

    “Mas eu enfrentei?”

    “Não você apanhou como uma galinha véia e, aliás, me deve cem pilas, pois tive que pagar cem reais para os caras pararem de bater em você.”

    Pensei por uns instantes. Tudo bem. Sou destemido.

    A conta do hospital ficou maior do que cobrei pelo serviço e ainda fiquei devendo cem pilas pro Brucutu. Ele é meu amigo. Salvou-me. Gosto dele. Duas semanas depois fui chamado no PROCON e havia uma denúncia dos vizinhos acusando-me de não ter realizado o serviço, pois os furtos aumentaram.

    Mamãe apareceu chorando. Disse a ela que eu estava bem, e que não precisava se preocupar. Ela me olhou ríspida e disse que estava chorando porque papai havia sumido novamente. Eita, Gerinelson maldito.

    Mas tudo bem sou detetive.

    Não tenho medo.

    Sou destemido.

    Me chamo Tango. Afrânio Tango, detetive particular.

     

     

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