Após a morte da jovem Elizabeth, filha do delegado Brundel, o qual se suicidou em seguida, a família foi embora para o interior, abandonando a casa e deixando o passado para trás.
A consternação foi geral. Os policiais ainda não descartavam conseguir localizar o assassino, o qual tinha o apelido de “Palhaço”.
Embora não tivessem pistas, nem dados que pudessem chegar a algum suspeito, o investigador Tonhão continuava empenhado no assunto. Amigo do delegado, não se conformava com o acontecimento.
O delegado era conhecido pelos colegas como extremamente competente, entretanto o crime brutal cometido contra sua filha chocara a todos os policiais.
Passados mais de três meses, somente Tonhão ainda estava com o caso, os demais já haviam sido destacados para cuidar de outros processos. Devido a falta de policiais, muitos deles afastados, enquanto outros assumiam dezenas de investigações, o que atrapalhava uma investigação bem feita.
O criminoso não tinha um ‘modus operandi’ que poderia detalhar o crime melhor. A única coisa que havia nos autos do processo, era que o assassino gravava todo o crime e, cruelmente enviava aos familiares pedaços do corpo da vítima. Tonhão, naquele momento sorvia um gole de café. Olhou o relógio que marcava mais de dez da noite e só naquele momento percebeu que não havia comido nada. Tentava cruzar dados de outros crimes com a intenção de haver outro assassinato com os mesmos modos criminosos.
Estava cansado. O delegado que assumira a delegacia ainda era jovem e recém-saído da Academia de Polícia e estava mais preocupado com outros problemas do que a morte do seu antecessor, o que dificultava as coisas para Tonhão.
Palhaço. – Pensava enquanto o cigarro queimava no cinzeiro. Quem é você?
Noutro dia, quando chegou pela manhã, havia um envelope em sua mesa, sem data, apenas com seu nome. Olhou para os lados e perguntou quem havia deixado aquilo, mas não obteve resposta. Ninguém sabia de nada. Ali, tinha a impressão de que ninguém queria saber de nada.
Abriu o envelope que continha um papel de cor azul com um sorriso de palhaço e os dizeres: “Caro investigador. Não queria que o delegado fizesse aquilo. Foi uma pena, afinal ele era um bom profissional e eu teria muitos casos para ele. Mas o pálido delegado (novo) não me apetece. Por isso, nosso jogo recomeça com você.”
Antonio Francisco da Rocha, o vulgo Tonhão sentiu um frio na espinha. O assassino tinha quebrado as regras. Por um instante se sentiu inseguro. Foi até o gabinete do delegado recém-empossado e lhe mostrou o papel que estava com letras alternadas, como se tivessem sido recortadas uma por uma e coladas no papel. O delegado olhou e imediatamente chamou seu chefe. Não sabia o que fazer. Tonhão deixou o papel com o delegado e saiu.
Sabia por onde começar, e, ali, naquela delegacia, não era o lugar. Subiu o morro e entregou um papel escrito às pressas. Se chegaria a pessoa que ele queria que chegasse, com certeza ele não sabia. Mas sabia que a noite seria uma longa jornada.
Às vezes os dias têm as noites muito longas.