• testando
    820 Jornal A Bigorna 17/09/2023 08:50:00

    Palanque do Zé

    Freddy Heineken era um dos homens mais ricos da Europa, já que havia obtido sucesso com sua cervejaria, a Heineken.

    Tudo corria bem, mas no dia 9 de novembro de 1983, homens armados sequestraram-no juntamente com seu motorista, na rua em frente a empresa, na cidade de Amsterdã.

    A ação se deu em uma noite fria, enquanto Freddy por seu chofer de longa data, Ab Doderer.

    Após uma breve briga contra homens armados, ambos foram postos em uma van de entrega e levados.

    O valor do regate? US$ 11 milhões.

    A voz de Freddy soava metálica quando um gravador era encontrado no bocal de um telefone público por um dos sequestradores: “Esta é a Coruja… O resgate está pronto?… e o Rato está presente para partida imediata?”.

    As palavras de Heineken desencadearam uma operação sem precedentes, eis que a Cervejaria se preparava para efetuar um dos maiores pagamentos de resgate do mundo, que hoje seria o equivalente a US$ 30 milhões.

    E pior: Os sequestradores queriam receber em espécie, com notas de quatro moedas diferentes, as quais pesavam mais de 90 quilos.

    Freddy desconhecia, mas sua mansão, escritório e rotina estavam sob vigilância há meses por uma gangue de cinco homens, enquanto planejavam o crime.

    Os meliantes eram Cor van Hout, Willem Holleeder, Frans Meijer, Jan Boellaard e Martin Erkamps.

    Eles tinham uma imobiliária que, após o sucesso inicial, começou a ter problemas financeiros. E foi aí que decidiram cometer o crime, apesar de essa versão ser contestada pela polícia holandesa.

    De acordo com van Hout, o plano era que a vítima não podia ser da realeza ou da politica e tinha que ser alguém por quem um alto resgate pudesse ser pago rapidamente, e foi aí que pensaram em Freddy.

    Para o sequestro, a gangue arrumou pistolas e metralhadoras, além de seis carros roubados e uma trilha de pistas falsas para enganar os detetives.

    Freddy e seu motorista, Doderer, foram levados para um armazém no oeste de Amsterdã, onde havia uma parede falsa havia sido construída para abrigar duas celas à prova de som.

    O plano dos bandidos era que o sequestro duraria 48 horas, mas o crime acabou se estendendo por 21 dias.

    No cárcere, as vítimas foram despidas e acorrentadas em minúsculas celas, separadas entre si.

    Quando liberto, Freddy disse que temia ter sido sequestrado pela notória Facção do Exército Vermelho da Alemanha Ocidental, e também do tubo de ar da cela parar de funcionar.

    Após a fase inicial do intento criminoso, os bandidos voltaram às suas rotinas normais para evitar levantar suspeitas de amigos, familiares ou policiais antes de fazer o pedido de resgate.

    A vítima, então com 60 anos, bateu de frente com a gangue por causa da comida e das condições de seu cativeiro. Os sequestradores ficaram confusos com suas exigências por consommé e outras iguarias, e ele tentou subornar um dos captores para libertá-lo. “Ele realmente tinha um caráter forte, esse homem. Ele era quase uma espécie de psicólogo”, disse van Hout.

    Freddy, que estava algemado a uma parede da cela fria e úmida, disse posteriormente: “Sempre guardava uma fatia de pão para comer à noite ou na manhã seguinte, porque você nunca tinha certeza se haveria pão na manhã seguinte.”

    “Não podia perder meu juízo; precisava me manter ocupado para permanecer vivo. Depois de alguns dias, criei uma rotina para me manter ocupado. Tentei fazer exercícios, apesar de tudo. Eu tinha que me manter ocupado”, disse Doderer, o motorista de Freddy por mais de 40 anos, após sua libertação.

    Heineken e Doderer foram forçados a posar para várias fotografias de prova de vida durante o cativeiro, mas nunca viram os rostos de seus captores e foram forçados a se comunicar apenas por meio de notas.

    Águia. Lebre. Rato. Coruja. Os sequestradores haviam planejado comunicar o pedido de resgate através de mensagens codificadas e recortes para confundir os detetives. A gangue fez contato deixando um envelope com o relógio de Heineken, os papéis de Doderer e uma nota de resgate em uma delegacia.

    A polícia recebeu ordens de sinalizar que o resgate estava pronto com um anúncio na seção pessoal de um jornal holandês que dizia: “O prado é verde para a Lebre”.

    A gangue havia estudado de perto sequestros famosos, como os de Getty e Lindbergh, e tinha um plano igualmente elaborado para a entrega do resgate. Uma mensagem gravada de Heineken e Doderer reproduzida por uma chamada de um telefone público direcionaria a polícia para a primeira de uma série de mensagens ocultas que levariam os detetives a uma viagem pelo pequeno país.

    O penúltimo passo era um carro com um walkie-talkie que seria usado para enviar instruções via rádio para parar em uma ponte rodoviária e jogar o resgate em um bueiro.

    O plano era quase perfeito, se fosse seguido à risca. Mas, como sempre, nem tudo pode ser controlado.

    Um exemplo, foi que os sequestradores exigiram que um policial desarmado levasse o resgate em uma van estacionada na casa de Freddy, mas a multidão de repórteres em torno da propriedade tornou isso impossível.

    Enquanto esse jogo de gato e rato se desenvolvia, a polícia recebeu uma denúncia anônima e conseguiu rastrear os bandidos, porque eles pediam comida chinesa para duas pessoas.

    Os planos para uma segunda tentativa de entrega do resgate estavam em andamento. A polícia planejava rastrear o dinheiro com uma câmera de visão noturna em um helicóptero, mas um problema técnico impediu tal fato.

    Com helicópteros zumbindo no alto, a gangue sinalizou no walkie-talkie para Rato – o motorista da polícia que carregava o resgate – parar em um viaduto e jogar o dinheiro no bueiro marcado com um cone de trânsito. Exatamente de acordo com o plano, as cinco malas postais deslizaram pelo ralo e pousaram na caçamba de uma caminhonete à espera, e a gangue escapou sem ser observada.

    Os meliantes foram de carro até uma área arborizada no sudeste de Amsterdã, onde esconderam o resgate em barris e fugiram de bicicleta.

    Após o recebimento do resgate, a quadrilha percebeu que estava sob vigilância e marcou uma reunião para discutir o que fazer. Meijer decidiu ficar na Holanda, enquanto van Hout e Holleeder optaram por fugir para Paris. Van Hout e Holleeder ficariam foragidos, ou no limbo legal na França e no Caribe francês, até serem extraditados e finalmente condenados pelo sequestro em 1987.

    A polícia holandesa, com o resgate pago e nenhuma palavra do sequestrador, invadiu o armazém e ficou inicialmente confusa com a parede falsa antes de descobrir as celas escondidas. “Você não poderia ter vindo um pouco mais cedo?”, Heineken perguntou aos policiais que o socorreram.

    A quadrilha havia levado o equivalente a US$ 2,5 milhões – cerca de um quarto do resgate – do local onde o dinheiro estava escondido antes de desaparecer. O resto do dinheiro foi recuperado pelas autoridades depois que pedestres tropeçaram nos barris enterrados.

    Todos os sequestradores acabaram presos ou mortos posteriormente, tendo inclusive, se envolvido individualmente em outras empreitadas criminosas.

    Brincando, certa feita, Freddy disse: “Eles me torturaram… Eles me fizeram beber Carlsberg!”, a cerveja da concorrência.

    Ele continuou a administrar a cervejaria até 2001, pouco antes de sua morte, em 2002.

    Mas passou a cuidar mais de sua segurança. Após o sequestro, Freddy montou uma empresa de segurança pessoal composta por ex-policiais para proteger sua família e caçar os sequestradores fugitivos. Ele fortificou sua casa e passou a viajar em carros blindados.

     

    --- -- ---

    Se você gosta e apoia o meu conteúdo, não deixe de participar dos grupos do Palanque do Zé.

    No do Telegram, você poderá interagir com outros leitores, sugerir pautas e ainda receberá todos os links dos textos em primeira mão!  Para participar, clique no link: https://t.me/palanquedoze

     

    No do WhatsApp, você receberá todos os links dos textos em primeira mão!  Para participar, clique no link: https://chat.whatsapp.com/FhUuwHcdyvJ8RrZ9Rzzg53

     

    --- -- ---

    Os textos do colunista não expressam, necessariamente, a opinião do Jornal A Bigorna.

     

    OUTRAS NOTÍCIAS

    veja também