A semana do Natal, período em que celebramos o nascimento de Cristo, é ideal para reacender a esperança e a crença em um mundo melhor.
Entrentanto, em um planeta marcado por conflitos que disseminam dor em diversas regiões, surge a dúvida sobre como preservar a confiança no potencial humano.
A trajetória histórica, porém, fornece relatos que demonstram que, até nos períodos mais obscuros, surgem atos de empatia capazes de reforçar nossa habilidade em sustentar ideais que expressam o afeto e amor ao próximo, assim como fez Jesus.
Um desses capítulos que inspiram otimismo é particularmente significativo para os brasileiros. Ele envolve os combatentes da Força Expedicionária Brasileira (FEB) nos campos de guerra italianos, ao longo da Segunda Grande Guerra Mundial.
Em plena devastação e sob o rigoroso inverno de 1944-1945, os militares brasileiros, frequentemente lidando com a falta de suprimentos próprios, partilharam suas provisões com as comunidades locais, priorizando mulheres e crianças.
Essas ações modestas converteram o desespero em perspectiva positiva, gerando legados tão persistentes que, até os dias atuais, são contados com reconhecimento nas localidades resgatadas por nossos heróis, os Pracinhas.
O alcance dessas iniciativas foi tão notável que chegou aos ouvidos do Papa Pio XII, que supostamente teria dito que, “onde há tropas brasileiras, as crianças italianas não sofrem com a fome”.
Outro caso, esse amplamente divulgado, refere-se ao “Milagre de Natal”, uma pausa informal e voluntária nos combates entre forças britânicas, belgas e alemãs, em múltiplos setores da linha de frente no Natal de 1914, durante a Primeira Grande Guerra Mundial, um confronto não tão “celebrado” quanto a Segunda Guerra, mas que foi tão ou até mais cruel na longa escala das degradações humanas, pois vitimou 22 milhões de pessoas.
Na oportunidade, o sistema de trincheiras já estava consolidado, com os combatentes expostos a explosões constantes, barro e enfermidades.
Na data festiva, contudo, de forma inesperada, os soldados de lados opostos abandonaram suas posições, sem armas, e interagiram, entoando canções de Natal, permutando cigarros e víveres, e inclusive disputando jogos de futebol. Por instantes fugidios, deixaram de lado o rancor e a brutalidade impostos pelo cenário bélico.
A interrupção foi passageira, e as hostilidades logo foram retomadas, mas o episódio ganhou lugar na memória coletiva como um emblema impactante da aptidão humana para descobrir otimismo e generosidade, mesmo no epicentro da desordem, afinal, as guerras podem ser comuns e até necessárias, mas nunca serão triviais.
Os referidos precedentes históricos são emblemáticos, mas longe de serem isolados. Ao observar com mais cuidado, identificamos inúmeros outros ocorrendo agora mesmo, em diversas partes do globo. Eles se diluem no meio da confusão gerada por guerras, disputas e agruras cotidianas, nesse redemoinho de eventos que nos cerca, mas funcionam como pilares para sustentar a convicção no futuro da espécie humana, apesar de tudo.
O Natal nos recorda que, mesmo nas fases mais tenebrosas, a compaixão e o afeto pelo outro podem dissipar as sombras, ainda que por curtos períodos.
As condutas dos militares brasileiros na Itália e a suspensão improvável nos fronts da Primeira Grande Guerra Mundial revelam que os indivíduos podem superar o antagonismo e a agressão, inclusive em ambientes de confronto.
Provavelmente a humanidade jamais eliminará as guerras e o padecimento como método de alcançar seus objetivos, sejam eles justos ou não, mas enquanto houver manifestações de altruísmo, persiste a perspectiva.
Que o clima natalino nos motive a fomentar essas práticas em nossa rotina, tendo em mente que, por vezes, um gesto de empatia pode ser o elo que preserva viva a centelha do otimismo e o amor de Cristo.
- - - -
Se você gosta e apoia o meu conteúdo, participe dos grupos do Palanque do Zé.
Telegram: https://t.me/palanquedoze
WhatsApp: https://chat.whatsapp.com/FhUuwHcdyvJ8RrZ9Rzzg53
- - - -
Os conteúdos publicados no “Palanque do Zé” não refletem, necessariamente, a opinião do Jornal A Bigorna. Assim, são de total responsabilidade do Autor, as informações, juízos de valor e conceitos aqui divulgados.













