A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) apelidada de "PEC da Blindagem" tem gerado intensos debates no cenário político brasileiro, especialmente por suas implicações na transparência do sistema legislativo. Tramitando no Congresso Nacional, a proposta busca limitar o alcance de decisões judiciais que interfiram em atos do Legislativo, como a suspensão de emendas parlamentares, e restringir investigações contra deputados e senadores sem autorização prévia das respectivas Casas. Embora defendida por alguns como uma medida para proteger a autonomia do Legislativo, a PEC levanta sérias preocupações sobre o risco de enfraquecimento do combate à corrupção e do equilíbrio entre os poderes.
A principal crítica à PEC reside em seu potencial de criar um escudo jurídico para parlamentares, dificultando a atuação do Judiciário e do Ministério Público em casos de irregularidades. A proposta surge em um contexto de tensões entre o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF), especialmente após decisões que anularam emendas de relator, como as do chamado "orçamento secreto". Essas emendas, que movimentaram bilhões de reais sem transparência, foram alvos de críticas por facilitarem práticas clientelistas. A PEC, ao limitar a capacidade do STF de intervir em decisões do Legislativo, pode consolidar um sistema de privilégios, reduzindo a fiscalização sobre o uso de recursos públicos e blindando parlamentares contra investigações legítimas.
Outro ponto preocupante é a mensagem que a PEC transmite à sociedade. Em um país marcado por escândalos de corrupção, como os revelados pela Operação Lava Jato, a proposta pode ser interpretada como uma tentativa de proteger interesses corporativistas em detrimento do bem público. A exigência de aval prévio do Congresso para investigações contra parlamentares reforça a percepção de uma casta política imune à lei, minando a confiança nas instituições democráticas. Dados da Transparência Internacional mostram que o Brasil já enfrenta desafios no Índice de Percepção da Corrupção, ocupando a 94ª posição em 2024. Medidas como a PEC da Blindagem podem agravar essa situação, afastando o país de padrões internacionais de governança.
Defensores da proposta argumentam que ela fortalece a separação dos poderes, impedindo intromissões indevidas do Judiciário no Legislativo. Contudo, essa visão ignora que a harmonia entre os poderes não implica imunidade absoluta, mas sim um sistema de freios e contrapesos que assegure a responsabilização. A Constituição de 1988 já prevê imunidades parlamentares, mas estas não devem ser confundidas com impunidade. A PEC, ao ampliar essas prerrogativas, cria um desequilíbrio que favorece a opacidade e compromete o princípio da igualdade perante a lei.
Em um momento em que a sociedade brasileira clama por mais transparência e ética na política, a PEC da Blindagem representa um retrocesso. É imprescindível que o Congresso priorize reformas que fortaleçam a democracia, como o fim do foro privilegiado e a maior fiscalização do orçamento público, em vez de medidas que protejam privilégios. A cidadania deve permanecer vigilante, cobrando dos parlamentares um compromisso com o interesse público e com o fortalecimento das instituições democráticas, sem escudos que perpetuem a impunidade.
*Por André Guazzelli
-Jornalista, colunista, Professor de História, Sociólogo, Filósofo













