Dias atrás, durante um descontraído café com uma amiga, fui pego de surpresa por uma pergunta simples, mas profundamente complexa: "Você acredita em Deus?". A questão, que poderia parecer trivial, ressoou em mim com particular intensidade, pois há muito me debruço sobre a existência humana e, inerentemente, sobre a existência de um Ser Superior.
Nossa perspectiva cósmica é, por si só, um convite à humildade. Nosso planeta, a Terra, é menos que uma pedrinha de mar na vastidão do cosmos. Estamos em um canto da Via Láctea, uma galáxia que, embora grandiosa para nós, é infinitesimalmente menor que a vizinha Andrômeda, que por sua vez é apenas uma entre trilhões de galáxias que compõem o Universo observável. Cada galáxia, um gigante de bilhões ou trilhões de estrelas, planetas, nuvens de gás e poeira, mantido unido pela força implacável da gravidade. Se considerarmos as novas teses de multiversos, a mente humana realmente pira diante de tamanha escala.
Diante dessa imensidão, a questão da divindade se torna ainda mais intrigante. Seria a Terra o único planeta a ter um Deus? E as trilhões de galáxias, não teriam seus próprios deuses ou um Deus universal? A filosofia e a teologia tentam, há séculos, dar sentido a essa indagação.
Tomás de Aquino, em sua busca pela causa primeira, argumentou: "Pois tudo o que se move é movido por outro... É necessário, portanto, chegar a um primeiro motor que por ninguém seja movido. E esse todos entendem como Deus." René Descartes, por sua vez, postulou: "Da mera consideração de que sou uma coisa imperfeita e dependente, concluo necessariamente que Deus existe." No entanto, vozes dissonantes, como a de Immanuel Kant, alertaram que "a prova ontológica tão famosa... não passa de esforços infrutíferos e fadados ao fracasso." E Voltaire, com seu pragmatismo mordaz, sugeriu: "Se Deus não existisse, seria necessário inventá-lo."
Para Søren Kierkegaard, a fé transcende a razão. Ele afirma que a crença em Deus é um "salto de fé" individual e passional, para além da lógica objetiva, um "suplício, uma paixão interior". A fé, para ele, é a convicção de que Deus existe, e essa certeza é intrínseca ao indivíduo, não passível de prova externa.
Retornando ao meu próprio pasmismo, diante de nossa insignificância e da grandiosidade do universo, confesso que não tenho uma resposta definitiva. Às vezes, acredito; às vezes, desacredito. Na maioria das vezes, quando testemunho as atrocidades que assolam a humanidade – guerras, crueldade, a fome inimaginável que atinge milhões em um mundo de abundância –, descreio da existência de um Ser Superior benevolente. A pergunta do Papa Bento XVI em Auschwitz-Birkenau, o palco de mais de um milhão de mortes: "Onde estava Deus?", ecoa em minha mente. E hoje, diante da persistência da maldade e do sofrimento, continuo a me questionar: onde está Deus?
*Por André Guazzelli Jornalista e escritor.