Em julho, após seus países se recusarem a aceitá-los de volta, cinco imigrantes em situação irregular nos Estados Unidos, provenientes da Ásia e do Caribe, foram deportados para Essuatíni, um pequeno país governado por uma monarquia absolutista no sul da África. Poucos lugares no pequeno reino africano de Essuatíni têm uma reputação mais temida do que o Centro Correcional de Matsapha, uma extensa estrutura de concreto e ferrugem de alta segurança situada nos arredores da capital, Mbabane.
— É como uma selva — afirmou um ex-detento sobre a prisão, que abriga 14 homens, entre eles um cubano em greve de fome, deportados dos EUA no âmbito da campanha anti-imigração do presidente Donald Trump.
Durante décadas, a prisão encarnou as políticas repressivas desta nação do sul da África, sendo frequentemente usada para silenciar críticos e ativistas pró-democracia. Agora, com a expulsão de cidadãos estrangeiros pelo governo Trump, ela tem uma função adicional e igualmente preocupante, segundo advogados.
A última monarquia absolutista da África concordou em aceitar até 160 deportados dos Estados Unidos em troca de US$ 5 milhões (cerca de R$ 27 milhões, na cotação atual) para reforçar seus sistemas fronteiriços e migratórios, segundo um acordo ao qual a AFP teve acesso.
— A vida lá não é fácil — afirmou o ex-detento Elvis Vusi Mazibuko, de 64 anos, que passou mais de duas décadas em Matsapha por crimes de roubo e furto de veículos. — É a lei do mais forte — acrescentou, lembrando as tensões que surgiam por disputas menores nas celas apertadas.
Essuatíni, a última monarquia absoluta da África e vizinha da África do Sul, é governada desde 1986 por Mswati III, criticado por seu estilo de vida luxuoso e frequentemente acusado de violações de direitos humanos. Neste ano, inclusive, o rei ordenou a libertação antecipada de alguns detentos para aliviar a superlotação no presídio, que, em outubro, abrigava mais de 1.560 detentos.
Um cubano em greve de fome
Os cinco primeiros deportados americanos foram encarcerados em julho, e um deles foi posteriormente repatriado para a Jamaica, sua terra natal. Washington os rotulou como "monstros depravados" condenados por crimes que incluem estupro e assassinato de crianças. Seus advogados disseram à AFP que já haviam cumprido suas penas nos Estados Unidos.
Outros 10 chegaram em outubro, segundo o governo de Essuatíni, que afirma ter a intenção de repatriá-los. Segundo uma investigação da AFP, eles são mantidos detidos sem acusações e sem acesso a aconselhamento jurídico.
Entre os que chegaram em julho está o cubano Roberto Mosquera del Peral, detido um mês antes na Flórida por agentes de imigração. O governo Trump afirmou que Mosquera havia sido preso no passado por homicídio, mas a AFP descobriu que sua condenação mais grave foi por tentativa de assassinato e que ele estava fora da prisão há anos.
No final de outubro, sua advogada nos Estados Unidos, Alma David, afirmou que Mosquera estava desde 15 de outubro "em greve de fome indefinida". Três fontes da prisão de Matsapha, que é dividida entre alas de segurança média e máxima, indicaram, sob condição de anonimato, que o cubano continuava em greve de fome.
— Os funcionários responsáveis pela ala o levaram a um dos grandes hospitais. Ele voltou, mas continua se recusando a comer e jurou não fazê-lo até que volte ao seu país natal — declarou uma das fontes.
Matsapha está dividida entre alas de segurança média e máxima. Os novos blocos financiados pelo acordo com Washington, e onde estão os deportados pelos Estados Unidos, estão no lado de segurança mínima.
Ao contrário dos blocos mais antigos, onde os detentos compartilham banheiros em dormitórios com beliches em filas, as novas celas contam com banheiros individuais e televisores. As paredes são transparentes, permitindo vigilância constante.
"Rotina que te destrói"
Embora o acesso à prisão seja estritamente controlado, a AFP conseguiu entrar recentemente em parte do complexo sem escolta. No local, quatro agentes guardavam na porta externa e conduziam os visitantes a um caminho ladeado por flores verdes, palmeiras e jacarandás.
Além das fileiras de casinhas antigas que compõem os alojamentos, ergue-se um novo muro perimetral de concreto que supostamente faria parte das reformas financiadas discretamente por Washington.
O dia de um preso começa com um banho às 5h da manhã, seguido de mingau uma hora depois, explicou Mazibuko, que foi libertado em 2012. Às 7h, os detentos são enviados para trabalhar ou assistir aulas, e após o almoço ao meio-dia têm tempo livre até o jantar às 16h. Em seguida, são trancados em suas celas até o dia seguinte.
— É uma rotina que te destrói. Você deve encontrar sua própria felicidade — afirmou Mazibuko, acrescentando que Matsapha era um lugar que "não desejaria nem ao meu pior inimigo".(Do Globo)













