
A força bruta, a bravata e a politicagem interessam apenas aos provocadores irresponsáveis da crise entre Brasil e Estados Unidos, em especial ao seu deflagrador, o presidente Donald Trump, e aos tartufos do bolsonarismo, que se aliaram ao agressor estrangeiro para sabotar 213 milhões de brasileiros.
A confusão e as demonstrações meramente simbólicas de poder adubam o terreno em que viceja o populismo autoritário, e ninguém com responsabilidade deveria pôr-se a rivalizar com o inquilino da Casa Branca e a família Bolsonaro nesse picadeiro.
Arrastar a cúpula do Judiciário brasileiro para essa disputa insólita, como se a ela coubesse algum papel na resposta ao ataque do presidente dos EUA, é tudo o que desejam Trump e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Ambos, a seu modo, não têm nada a perder. O mandatário americano lançou a chantagem dentro de sua tática intimidatória. Se ao final sair do embate com alguma concessão regulatória ou comercial, ou mais impostos contra as exportações brasileiras, terá se dado por vencedor.
A Jair e a seu filho fujão não resta nada além da provocação. O julgamento do pai por tentativa de golpe, em que a sua condenação a vários anos de prisão é o desfecho provável, não passará de setembro. É certo como o nascer do Sol que Eduardo será julgado e condenado no mínimo por coação e ficará inelegível e sujeito à cadeia se retornar ao país.
Diante desse quadro, é recomendável que as autoridades judiciárias resistam a provocações baratas sem a menor chance de interferir nesses processos, como é o caso do lobby colaboracionista com a Casa Branca. A resposta diplomática e negocial deve ficar a cargo exclusivamente do Palácio do Planalto, do Itamaraty e do Ministério do Desenvolvimento.
A obsessão censora do ministro Alexandre de Moraes deveria ser inibida. Soou como demonstração inútil de força a ordem a uma plataforma de rede social dos EUA para apagar contas de um blogueiro direitista dias depois de Trump ameaçar o Brasil.
A imposição, também por Moraes, de um silêncio kafkiano a Jair Bolsonaro tampouco traz qualquer vantagem para o desiderato da aplicação segura da lei penal. O ex-presidente fica sujeito à prisão mesmo se terceiros, opositores inclusive, postarem declarações suas nas redes sociais.
A imprensa, cuja liberdade consta da Carta como corolário do direito do cidadão de se informar, coloca-se na absurda situação de publicar entrevistas com o ex-presidente em meios impressos ou nos sites, mas não nas redes pelas quais muita gente se informa, para não desencadear o encarceramento do entrevistado.
Esse método, além de constituir um modo equivocado de lidar com a delinquência no Estado democrático de Direito, alimenta a besta do populismo autoritário. Apenas os Bolsonaros e os Trumps lucram quando a irracionalidade que irradiam passa a ser utilizada por seus opositores.(Da Folha de SP)