O sol nasceu com a doçura de um segredo, mal ousando tocar a cidade que se erguia em ruído e pressa. As ruas eram um rio de indiferença, onde olhares cansados se esquivavam de qualquer contato. Mas, em meio ao concreto frio, o milagre da ternura se anunciava: uma criança, sentada no chão, soprava bolhas de sabão. Eram suspiros de ar transformados em esferas de luz, um pequeno coração pulsando no cinza.
Quem se permitia desacelerar a alma via a magia. Aquelas pequenas joias iridescentes não apenas refletiam o céu; elas aprisionavam o azul mais puro, o sol mais quente, o sonho mais leve. Por um instante, o mundo inteiro cabia ali, frágil e perfeito, um lembrete de que a beleza é sempre vulnerável, mas infinita. Era o amor em sua forma mais efêmera, desafiando a gravidade e o tempo.
Na esquina, um senhor de mãos calejadas oferecia água às suas flores. Não era um gesto banal, mas uma declaração de devoção silenciosa. Era a alma que se recusa a desistir da vida, insistindo em nutrir a beleza contra a aridez, um pacto de afeto com o futuro. Mais adiante, uma jovem parou o passo apressado para envolver um desconhecido em lágrimas num abraço. Um afeto puro, sem perguntas, a mais antiga e urgente das linguagens humanas: a de que a dor de um é a dor de todos.
A esperança, talvez, não seja um evento grandioso, mas a soma de todos os atos de amor radical. É a escolha de manter o coração aberto, o sorriso que resiste, a mão que se estende para tocar a dor do outro. É a bolha de sabão que se lança ao vento, sabendo que vai estourar, mas que, enquanto dura, carrega a luz do mundo.
Ainda existe esperança? Sim. Ela não é uma promessa distante, mas o instante presente em que escolhemos amar. Ela pulsa em cada gota de água que nutre uma planta, em cada bolha que dança, em cada abraço que nos lembra que somos, antes de tudo, feitos de calor e conexão. A esperança é o amor que insiste em ficar.
*Por André Guazzelli













