O sucesso inequívoco do encontro deste domingo entre Lula e Donald Trump reforçou algo que já vem acontecendo há tempos com a direita e, mais especificamente, com o bolsonarismo: a incapacidade de reação dessa turma nas redes sociais, local em que foram hegemônicos nos últimos dez anos.
Eduardo Bolsonaro tuitou três vezes, Flavio e Carluxo apenas uma vez. Nikolas Ferreira, que tem como marca só entrar em temas que enxerga um caminho já aberto para viralizar, ignorou o encontro de ontem. Outros influenciadores bolsonaristas tentaram, mas não se destacaram.
Mais do que isso: não houve, como em tantas outras vezes na última década, uma ordem unida com um mote de ataque definido para martelar as redes dos convertidos. Nada foi para o trending topics, nada viralizou.
Buscaram destacar o breve elogio de Trump a Bolsonaro ("Eu sempre gostei dele, eu sempre gostei dele… Eu me sinto muito mal sobre o que ocorreu com ele. Eu sempre pensei que ele era um cara direito, mas ele tem passado por várias coisas” ), mas sem o efeito pretendido. Tentaram também dizer que o encontro de ontem malogrou porque nenhuma decisão sobre diminuição de tarifas foi anunciada — como se a conversa de ontem não fosse apenas um ponto de partida.
Repetiu-se, enfim, o que aconteceu na conversa por videoconferência entre os dois presidentes no início do mês: ataques descoordenados, que não produziram um discurso marcante de oposição.
Independentemente do tom amigável do encontro Lula-Trump, o bolsonarismo poderia ter encontrado um gancho para bater no governo, mesmo que apelando para fake news ou tirando frases ou falas do contexto — como é praxe nestes casos.
Nada disso quer dizer que o bolsonarismo e a extrema-direita não poderão recuperar a mira nos próximos ataques. Se a negociação das tarifas, por exemplo, fracassar, não há chance de o governo se sair bem e o bolsonarismo teria então uma avenida para explorar.
Mas o momento é de desarticulação da direita e do bolsonarismo digital. Ao menos ontem, a oposição viu o governo triunfar e mostrou-se despreparada para o revide.
É uma desarticulação que começa na indefinição dos caminhos que o bolsonarismo e a direita em geral vão seguir na eleição de 2026 e desagua na falta de coordenação e direção na guerrilha digital que se dá nas redes sociais.
(Atualização, às 8h11. Hoje, Trump voltou a acariciar Lula: "Feliz aniversário. Quero desejar feliz aniversário ao presidente, ok? Hoje é o aniversário dele. Ele é um cara muito vigoroso, na verdade, e foi muito impressionante, mas hoje é o aniversário dele, então feliz aniversário". O parabéns de Trump tende a aturdir mais ainda o bolsonarismo)













