• Como Hitler morreu há 80 anos e por que houve tanto mistério sobre destino final de seu corpo

    84 Jornal A Bigorna 01/05/2025 08:40:00

    As mentiras espalhadas pelos nazistas eram tantas que a própria notícia da morte de Adolf Hitler foi recebida com incredulidade em 1945. Versões contraditórias exigiram décadas para que a realidade dos fatos fosse determinada até o máximo possível.

    "Os nazistas usaram tanto a mentira como parte da sua política e os relatos sobre os supostos dublês de Adolf Hitler são tão disseminados que estes anúncios deixarão, em muitas mentes, a suspeita de que o mestre da mentira tenta cometer uma grande fraude final perante o mundo, em um esforço para se salvar."

    Esta advertência foi publicada pelo jornal The New York Times há 80 anos. E se concretizou.

    A impressionante notícia da morte de Adolf Hitler (1889-1945) e do fim iminente da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) foi recebida com uma incredulidade que duraria décadas.

    A rádio de Hamburgo anunciou a morte do líder nazista na noite de 1º de maio de 1945. A emissora detalhou que ele teria morrido naquela tarde, "no seu posto de comando na Chancelaria do Reich, lutando até seu último suspiro contra o bolchevismo e pela Alemanha".

    Mas o correspondente do The New York Times noticiava no dia seguinte:

    "Os presos políticos alemães com quem conversei, de forma geral, não acreditam na informação. Eles suspeitam que haja um artifício por trás do anúncio. Hitler havia sido tão inescrupuloso que alguns acreditam que ele seria incapaz até de morrer honestamente."

    E, de fato, aquela notícia encerrava diversas mentiras.

    Com a ocupação soviética da capital alemã, Berlim, surgiram diferentes versões sobre o ocorrido. As várias histórias se alternavam e se contradiziam.

    No dia 3 de maio de 1945, o Exército Vermelho da União Soviética informou que Hans Fritzsche (1900-1953), segundo em comando do Ministério da Propaganda nazista, havia declarado que o ministro da Propaganda, Joseph Goebbels (1897-1945) e Hitler haviam se suicidado no bunker do líder nazista, na sede da Chancelaria em Berlim.

    Naquele mesmo dia, uma emissora de rádio de Paris anunciou ter recebido relatos de que o Führer havia sido assassinado na noite de 21 de abril, depois de uma discussão com seus próprios generais sobre a conveniência de manter a guerra.

    As versões se multiplicaram com o passar dos dias. A agência de notícias japonesa Domei informou que Hitler havia morrido durante um ataque de artilharia soviético sobre sua residência.

    Um despacho da agência de notícias UP mencionava um ex-funcionário de alto escalão do Ministério das Relações Exteriores nazista, que acreditava que Hitler havia morrido vários dias antes. Ele teria sofrido hemorragia cerebral e sido levado para a capital alemã, para morrer como herói.

    "Podem estar certos de que o corpo de Hitler não será descoberto", profetizou ele.

    As tentativas de encontrar o cadáver, aparentemente, não tinham sucesso.

    No dia 4 de maio, a imprensa soviética indicou que o Exército Vermelho não havia conseguido encontrar o corpo de Hitler na sede da Chancelaria alemã, onde ficava seu escritório. Isso porque o edifício estava em chamas e suas estruturas estavam à beira do colapso.

    Dois dias depois, os soviéticos afirmaram terem encontrado uma grande quantidade de cadáveres na Chancelaria, mas nenhum deles era de Hitler, nem de Goebbels.

    "Entre os russos, persiste a crença de que a informação sobre suas mortes é outro truque dos nazistas e que Hitler e seus subordinados estão vivos e escondidos", destacava a agência AP, da então capital soviética, Moscou.

    No dia 8 de maio, um general soviético anunciou a descoberta, nas ruínas de Berlim, de um corpo baleado que foi identificado como Hitler por membros do seu próprio corpo de serviços domésticos. Mas um motorista assegurava que aquele era o cadáver de um dos cozinheiros que também trabalhava como "dublê" do Führer.

    Em junho de 1945, autoridades soviéticas informaram que os restos mortais de Hitler não haviam sido encontrados. Por isso, provavelmente, ele ainda estaria vivo.

    Naquele mesmo verão do hemisfério norte, começaram a circular informações dando conta de que o líder nazista havia sido visto em diversos lugares, muito distantes entre si.

    "Surgiu a informação de que Hitler estava morando como ermitão em uma caverna, perto do lago de Garda, no norte da Itália. Outro relato dizia que ele, agora, era pastor nos Alpes suíços", segundo os historiadores Ada Petrova e Peter Watson, no livro The Death of Hitler ("A morte de Hitler", em tradução livre).

    "Uma terceira versão indicava que ele era croupier em um cassino de Évian (França). Ele foi visto em Grenoble e St. Gallen (Suíça) e até no litoral da Irlanda."

    Em julho de 1945, as autoridades americanas interceptaram uma carta que garantia que Hitler morava em uma fazenda na Argentina, a cerca de 700 km da capital, Buenos Aires. O caso chegou às mãos do então chefe do FBI, J. Edgar Hoover (1895-1972), que acabou descartando a informação.

    Mas o que realmente aconteceu com Adolf Hitler?

    Após o sucesso da ofensiva contra Berlim, em abril de 1945, as forças soviéticas assumiram o controle do refúgio do Führer na sede da Chancelaria alemã.

    No dia 2 de maio de 1945, membros do serviço de contrainteligência soviética (conhecido como Smersh) lacraram o jardim da Chancelaria e o bunker onde o líder nazista estava instalado desde janeiro, quando o Exército Vermelho avançou sobre a Polônia, rumo à Alemanha.

    A operação de busca do corpo foi realizada com o mais absoluto segredo – a ponto de, segundo o historiador Anthony Beevor, negar o acesso ao próprio marechal Georgy Zhukov (1896-1974), comandante das forças soviéticas que realizaram o ataque a Berlim. O argumento era que "o local não era seguro".

    Paralelamente, foram iniciados os interrogatórios de todas as pessoas que puderam ser identificadas. Segundo Beevor, Moscou acompanhava o processo com muita atenção e interesse.

    "[Josef] Stalin [1878-1953] estava tão desesperado para receber notícias que um general da NKVD, antecessora da KGB, foi enviado para supervisionar os interrogatórios", contou Beevor em um artigo publicado no The New York Times.

    "Ele recebeu uma linha telefônica segura com codificador, para poder informar Moscou após cada entrevista."No dia 5 de maio, os agentes do Smersh encontraram os corpos de Hitler e de sua esposa Eva Braun (1912-1945). Eles estavam enterrados em uma cova aberta por uma bomba, no jardim da Chancelaria.

    Os cadáveres haviam sido pulverizados com gasolina e estavam parcialmente queimados. O corpo de Hitler era difícil de reconhecer e, por isso, sua mandíbula foi retirada no necrotério para tentar identificá-lo pela sua arcada dentária.

    A identificação pôde ser feita poucos dias depois, quando os soviéticos localizaram a assistente do dentista do Führer, Käthe Heusermann (1909-1995). Ela forneceu o histórico médico e demais dados necessários para confirmar que, de fato, se tratava do corpo do líder nazista.

    Posteriormente, em 1973, um estudo de odontologia forense ratificou que o cadáver recuperado era realmente de Adolf Hitler.(Da Efe)

     

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